645 - GARY CHARLES


Rápido e com um técnica que o apartava dos demais, Gary Charles, com apenas 17 anos, já fazia parte dos eleitos de Brian Clough. A tenra idade e a qualidade que apresentava, levá-lo-ia a ser um dos protegidos do treinador do Nottingham Forest. Apesar desta aproximação, o jovem defesa não se safava, com algumas peripécias à mistura, de ter de cumprir algumas tarefas extra futebol – “Lembro-me que, uma vez, perdi o cão dele. Ele vinha sempre ter comigo para o passear e, no dia em que ele fugiu, pediu-me para o levar ao longo do Rio Trent (…). Eramos cerca de 20 à procura por Nottingham, pelo labrador dele, por 3 ou 4 horas. Nós voltamos para o estádio e eu estava petrificado com o que havia de dizer-lhe. Mas o cão estava sentado no escritório dele”*.
É justo dizer-se que os primeiros anos de Gary Charles no Nottingham Forest, pela rapidez com que conquistaria algum espaço no seio do plantel, haveriam de espantar muita gente. Nesse sentido, também a sua chamada à principal selecção inglesa, haveria de ser surpreendente. Embalado pela presença na final da Taça de Inglaterra de 1989/90, o lateral-direito, no final da dita temporada, acabaria por ser chamado a disputar dois “particulares”.
Apesar de um pequeno empréstimo ao Leicester (1988/89), as primeiras épocas de Gary Charles como profissional, prometiam um jogador de qualidade. A verdade é que, com a mesma rapidez com que apareceu, o atleta começou a eclipsar-se. Para esse desvanecer, muito contribuiriam alguns episódios bem trágicos. O primeiro aconteceria no Verão de 1992, quando o jogador se vê envolvido num desastre rodoviário. Com uma vítima mortal a resultar desse acidente, Gary Charles, bastante afectado psicologicamente, baixaria muito o seu rendimento. Depois viria a despromoção do Nottingham Forest (1992/93), a mudança para o Derby County e a passagem pelo segundo escalão inglês. No final disto tudo, uma pequena esperança para uma carreira que, tão precocemente, parecia estar a esgotar-se.
A sua transferência para o Aston Villa, funcionaria como que se de um elixir se tratasse. De volta às boas exibições, Gary Charles parecia ter regressado ao caminho certo. Contudo, o azar voltaria a bater-lhe à porta. Já após ajudar à vitória na Taça da Liga de 1995/96, onde participaria na derradeira partida da prova, uma lesão no tornozelo afastá-lo-ia das competições por mais de um ano. A partir desse momento, o defesa jamais mais voltaria a ser o mesmo. Assolado por sucessivos problemas físicos, o atleta, procurando refugiar-se de tamanha má fortuna, começaria a entregar-se aos vícios do álcool. A adição que o perseguiria, tanto durante os tempos de Aston Villa, como na curta passagem pelo Benfica ou, já nas suas últimas temporadas, ao serviço do West Ham, resultaria em problemas com a justiça.
Já depois de ter posto um ponto final no seu percurso de futebolista, Gary Charles, em 2005, e depois de ser apanhado a conduzir alcoolizado, é condenado a alguns meses de prisão. Logo no ano seguinte, o antigo atleta volta a ser preso. Em completo estado de embriaguez, e enquanto cumpria um período de pena suspensa, ameaça fisicamente um porteiro de uma discoteca.
No meio destas desgraças, há uma história que merece ressalva… a de Roy Keane. Tendo sido seu companheiro no Nottingham Forest, e numa altura em que muitos se afastariam de Gary Charles, o antigo médio irlandês teve uma postura completamente diferente. Escreveu ao seu antigo colega e prometeu-lhe que, mal cumprisse a pena, estaria pronto a ajudá-lo. Assim fez. Albergou-o em sua casa e, numa altura em que treinava o Sunderland, juntou-o ao grupo, auxiliando-o a dar os primeiros passos na carreira de treinador.
Com esta ajuda, Gary Charles começou a superar o seu vício. Desde aí tem dedicado o seu tempo a várias actividades relacionados com o futebol. Como treinador, tem passado por equipas dos escalões inferiores; como dirigente, destaque para a sua passagem como director desportivo na Universidade de Nottingham. Fora isto, Gary Charles tem-se focado na prevenção e ajuda de atletas, na luta contra todo o tipo de adições.

 
*adaptado de http://www.lincolnshireecho.co.uk, a 05 de Abril de 2012

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