603 - GENTO

Pouco mais de uma dezena de jogos, seriam suficientes para que o Real Madrid decidisse apostar num extremo esquerdo que, na temporada de 1952/53, acabava de fazer a sua estreia profissional no Racing de Santanter.
Francisco Gento, esse dito jovem, era de uma família de desportistas. O seu pai, também ele futebolista, tinha sido a principal influência, o verdadeiro impulsionador, para que os seus filhos seguissem uma carreira na modalidade que o apaixonava. Francisco, o mais velho, acabaria por ser o que mais se destacaria, mas também António e Julio teriam uma brilhante carreira, ajudando a destacar o nome Gento no desporto mundial.
É curioso dizer-se que aquilo que, desde muito cedo, impressionou em Gento, acabaria por provocar alguns apupos no início da sua carreira. No Real Madrid, nesses primeiros jogos, aquilo que era a sua principal arma, a velocidade, de tão estonteante que era, trazia-lhe muitos dissabores – “Eu corria tão depressa que me esquecia de levar a bola comigo”*!!! Na verdade, não era só aos adeptos que as suas inconsequentes corridas desagradavam. Os seus colegas de equipa também se queixavam. Primeiro, porque ninguém conseguia acompanhar as suas avançadas e, depois, porque isolado na frente de ataque, a sua técnica, ainda um pouco imberbe, era sinónimo de bola perdida.
Esse paradigma acabaria por mudar com a chegada de Héctor Rial e Alfredo Di Stéfano. Os dois sul-americanos, apercebendo-se das qualidades de Gento, mas, igualmente, do muito que ainda tinha que ser talhado, começariam a moldá-lo às necessidades do colectivo. Nesse sentido, Gento começou a saber controlar a sua impetuosidade, a moderar as suas corridas de maneira a que conseguisse jogar com os seus parceiros. Aprendeu a dominar melhor o esférico e, essencialmente, aprendeu a fazer dos seus cruzamentos uma oferta para quem, na área adversária, procurava empurrar a bola para dentro das redes.
É neste contexto, no de um plantel recheado de excelentes executantes, que o Real Madrid e Gento avançam para a primeira edição da Taça dos Campeões Europeus – “Eu tenho que confessar que nós não tínhamos ideia do quão importante o torneio iria tornar-se. Nós íamos e jogá-lo e foi isso. Ninguém nos explicou o que iria acontecer, nem o formato da competição, nem que ia ser uma coisa tão importante nos anos vindouros”**.
Rapidamente, esta normal ingenuidade, inerente a uma competição que dava os seus primeiros passos, dá lugar a uma máquina devoradora de títulos. O extremo esquerdo, ao lado dos seus companheiros de equipa, vence a taça de 1955/56. Conquista, igualmente, as 4 edições que se seguiriam e, com tudo isto e mais uma vitória do Real Madrid em 1965/66, torna-se no único futebolista a contar com 6 Taças dos Campeões Europeus no seu currículo.
O sucesso do internacional espanhol acabaria por se estender muito para além das competições europeias. Também no panorama interno, os “Merengues” mostravam a sua superioridade. Os 12 Campeonatos ganhos por Gento, durante os 18 anos em que vestiu as cores “madridistas”, são a prova cabal desse poderio. Faltou-lhe, talvez, uma coisa na carreira. Ele que viria a capitanear, tanto o seu clube, como a equipa nacional, e que participou nos Mundiais de 1962 e 1966, falhou o primeiro grande sucesso da selecção espanhola. Nesse Euro de 1964, o nome de Gento não haveria de constar nos convocados para a fase final. O atacante acabaria por não ajudar a erguer esse troféu, cuja final seria disputada no seu estádio, no Santiago Bernabéu.



*artigo de Rory Smith em www.espnfc.com, a 21/08/2004
**artigo de Ian Rogers em www.dailymail.co.uk, a 08/09/2015

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