565 - BOBBY ROBSON

Jogava pelas camadas jovens da colectividade da sua aldeia, quando começaram a chegar-lhe propostas de clubes profissionais. Middlesbrough, Fulham e Newcastle eram, por essa altura, os nomes que tomavam a dianteira pelo seu concurso. Para desgosto de Bobby Robson, enquanto que os dois primeiros emblemas até pareciam mostrar alguma vontade na sua contratação, o Newcastle, clube do qual era adepto, cada vez mais parecia afastado desse querer.
Propostas analisadas e a escolha do jovem interior direito apontaria para o clube de Londres. Se para trás ficava o sonho de jogar em St. James Park, Bobby Robson tinha à sua frente a possibilidade de fazer carreira na modalidade que o apaixonava. Engraçado é que, diante deste cenário auspicioso, o jovem futebolista decide seguir o conselho do seu pai. Assina contrato, mas, em simultâneo, mantem-se no ofício que tinha aprendido na sua terra. Com treinos à noite e, durante o dia, na função de electricista, Bobby Robson passa os primeiros tempos na capital inglesa. Contudo, a exigência dessa sua rotina, leva-o a constatar que a harmonização de ambas as actividades era, para si, prejudicial, passando a dedicar-se, em exclusivo, ao futebol.
A sua primeira temporada (1950/51) levá-lo-ia à estreia na maior divisão inglesa. Até aqui tudo bem! No entanto, e como o próprio viria a reconhecer, a modéstia com que o clube se vestia, faria com que a manutenção acabasse sempre numa luta muito difícil. A temida despromoção, previsível, acabaria mesmo por acontecer na temporada de 1951/52. Seguir-se-iam 4 épocas, em que Bobby Robson acabaria vetado ao afastamento dos grandes palcos. Esse período terminaria, quando o W.B.A se interessa pela sua aquisição.
£25.000 depois, recorde para o emblema de West Bromwish, e o avançado estava de volta aos maiores desafios do futebol britânico. O seu regresso e o crescente de boas exibições que ia rubricando pelo grupo das Midlands, levariam com que os responsáveis da F.A. (federação inglesa) começassem a olhar para ele como um bom elemento a juntar às convocatórias.
A primeira internacionalização, naquela que viria a ser uma das melhores temporadas ao serviço do W.B.A., acabaria por acontecer em Novembro de 1957. E se esse encontro frente à França, por ser o de estreia na principal selecção inglesa, já estaria envolto em algo de diferente, a exibição de Bobby Robson, com dois golos marcados, torná-lo-ia ainda mais especial.
O jogo frente aos gauleses, lançá-lo-ia para um percurso de duas dezenas de partidas com a camisola dos "três leões". Pela Inglaterra seria chamado para o Mundial de 1958 e de 1962. Faltaram-lhe os títulos. Aliás essa seria uma constante na sua carreira, que só seria contrariada depois de Bobby Robson ter "pendurado as chuteiras".
Após o final da sua vida como futebolista, que aconteceria depois de um regresso ao Fulham e de uma derradeira passagem pelos Vancouver Royals, Bobby Robson decide-se pelas funções de treinador. Começa, exactamente, pelos de Craven Cottage, mas os maus resultados depressa o entregam à sua primeira "chicotada".
Depois deste início atribulado, ainda assim, o Ipswich decide apostar no seu contributo. Umas primeiras temporadas de calibre medíocre, não seriam suficientes para que a direcção do clube perdesse a confiança no técnico. Ainda bem, pois, daí em diante, os resultados de tal teimosia trariam muitas alegrias a todos que viviam o clube. Com uma estrutura assente na formação, o Ipswich começa a tornar-se, nos anos 70, num dos melhores clubes por "Terras de Sua Majestade". Os lugares cimeiros na tabela classificativa, com a correspondente qualificação para as provas europeias, pareciam querer indicar isso mesmo. Melhor, só mesmo os títulos. Esses chegariam com a vitória na Taça de Inglaterra de 1977/78 e com a conquista da Taça UEFA de 1980/81.
Estes troféus, ainda por cima, conquistados por um clube que, tradicionalmente, não estava habituado a estas andanças, trariam a Bobby Robson a aura de grande treinador. Resultado disto seria o convite para liderar a equipa nacional inglesa. Mais uma vez, os primeiros anos acabariam por não trazer os resultados esperados. Falha a qualificação para o Euro 84 e entrega a demissão. Contudo, o seu pedido não é aceite. Continua e não voltaria a falhar mais nenhum dos grandes certames de selecções.
A vontade de treinar, todos os dias, um grupo de jogadores, depois de um 4º posto no Mundial de 1990, fá-lo aceitar o convite do PSV. A entrada num contexto diferente, leva-o a estranhar muitas das coisas que por lá se passavam - "Um profissional inglês aceita as decisões do seu treinador. Aqui, depois de todos os jogos, os suplentes fazem-me uma visita". Mas nem esta gestão difícil, onde Romário era o problema nº 1, faz com falhe nos seus objectivos. Nas duas épocas em que se sentaria no banco dos de Eindhoven, Bobby Robson acabaria por vencer, em ambas, o Campeonato holandês.
É depois desta primeira aventura no estrangeiro, que o técnico inglês chega a Portugal. Quem o acolhe, a convite de Sousa Cintra, é o Sporting Clube de Portugal. Com uma estratégia ajustada em bons internacionais, como Balakov, Iordanov ou Valckx, e na ascensão de grandes promessas - casos de Figo, Peixe ou Capucho -, os "Leões" perfilavam-se como um forte candidato aos títulos. Após uma primeira época (1992/93) onde ficariam pelo último lugar do pódio, a segunda temporada de Bobby Robson começava a mostrar resultados. Mais acutilantes na forma de jogar, os de "Alvalade" seguiam no comando do Campeonato, quando, para a terceira ronda da Taça UEFA, calha em sorte o Casino Salzburg. Opositor fácil, pensaram os responsáveis leoninos. O que é certo é que os austríacos (que viriam a ser finalistas da dita edição da prova), depois de derrotados em Lisboa, haveriam de dar a volta à eliminatória. Se surpresa foi o afastamento do Sporting, maior seria o espanto dos adeptos "verde e brancos", quando souberam do despedimento do treinador. Ao que parece, durante a viagem de retorno, Sousa Cintra enceta um aceso discurso. Durante o mesmo, e para espanto de todos os que o ouviam, decide-se pela rescisão do contrato.
Quem aproveitaria a asneira do Sporting, seria o FC Porto. Nessa mesma temporada, 1993/94, Bobby Robson muda-se para a "Invicta". Consegue ultrapassar o Sporting, que cairia para o 3º lugar na tabela classificativa, e na final da Taça de Portugal derrotaria o clube que, ainda uns meses antes, o tinha despedido de forma tão disparatada! Mas vingança para com o Sporting não ficaria por aqui. Logo na temporada seguinte, Bobby Robson, num campeonato disputado a par com os "Leões", sai vencedor. Para gáudio do treinador, e remorso do presidente sportinguista, seria no Estádio de Alvalade, depois de uma vitória por 1-0, que os "Dragões" dariam o passo mais importante para a consagração.
Com este Campeonato e, também, com o da temporada seguinte no seu currículo (os dois primeiros do "Penta"), Bobby Robson mudar-se-ia para Barcelona. Na Catalunha, para onde levaria Fernando Couto e Vítor Baía, o inglês regressa aos títulos europeus. Ganha a Taça das Taças, à qual juntaria a Supertaça e a Copa del Rey, quando os responsáveis pelos "Blau Grana" decidem convidá-lo para um cargo directivo! Como "General Manager", Bobby Robson apenas estaria um ano. Ao fim do mesmo, regressa para onde se sentia melhor e, junto aos relvados, volta a treinar o PSV.
O último capítulo da sua vida como profissional, fá-lo-ia ao serviço daquele que, sempre, havia sido o emblema do seu coração. Contratado pelo Newcastle, passaria uma série de temporadas aos comandos do clube. Esses 7 derradeiros anos, ainda que sem títulos, serviriam para vencer um sem-fim de distinções pessoais. Nomeado "Knight", pelos serviços prestados ao Reino Unido, Bobby Robson juntaria esta distinção a uma série delas, presenteadas pelas maiores instâncias do futebol.
Mas apesar dos merecidos prémios, aquilo que ficará na memória daqueles que com ele conviveram, será o seu comportamento, a sua atitude correcta perante a vida ou seu "fair-play"... Bobby Robson será para sempre recordado como um "gentleman", um grande Homem do desporto mundial.

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