527 - CARLOS XAVIER


Com 18 anos apenas e um golo na partida de estreia com a principal camisola verde e branca, o destino de Carlos Xavier parecia estar entregue ao sucesso. Contudo, e o seu primeiro jogo foi memorável, já a temporada em que tal decorreu (1980/81), compreensivelmente, haveria de ser para si, muito mais discreta. Já o ano seguinte revelar-se-ia de forma bem diferente, com o atleta, muito à custa da seu rigor táctico e da sua, tão apreciada pelos treinadores, polivalência, a ganhar um lugar definitivo no "onze" leonino.
Vencido o Campeonato Nacional, Taça de Portugal e com a estreia na principal Selecção portuguesa, a sua história começava a ganhar contornos de uma verdadeira “estrela”. Por aquela altura mais utilizado a defesa, Carlos Xavier conseguia convencer tanto os seus treinadores, como os adeptos, de que a sua carreira haveria de ficar ligada aos anais do Sporting. Época após época, firmava-se como um dos elementos mais importantes dentro do plantel. Ninguém o via de outra forma, até que, com o início da temporada de 1986/87, o impensável aconteceria. Incompatibilizado com Manuel José, à altura treinador dos "Leões", Carlos Xavier ver-se-ia numa posição menos privilegiada. A solução para o veiculado desentendimento, acabaria por ser o empréstimo à Académica, onde partilharia o balneário com o seu irmão Pedro Xavier.
Uma temporada volvida e Carlos Xavier estava de volta a Alvalade. Continuava preponderante no seio da equipa. Contudo, para quem no início da sua carreira tanto tinha prometido, faltava-lhe ainda um pouco mais para ser esse profetizado craque. Muito se disse sobre isso: alguns haveriam de referir um certo deslumbramento, aquando da sua promoção a sénior; outros apontariam o dedo à instabilidade vivida dentro do clube. A verdade é que, para além da indesmentível qualidade que mostrava dentro de campo, a Carlos Xavier, nesse caminho para um incontestável reconhecimento, faltou sempre alguma regularidade exibicional.
 Apesar destas críticas, a sua capacidade técnica continuava apaixonar muitos dos que estavam ligados ao futebol. Um dos que nunca o esqueceria, seria John Toshack. Por essa mesma razão, ele que já o tinha orientado no Sporting em 1984/85, decide que a sua contratação haveria de ser uma aposta segura. Ora, preparava-se a temporada de 1991/92 quando, para a Real Sociedad, comandada pelo referido técnico galês, parte, lado-a-lado com Oceano, Carlos Xavier. Em Espanha haveria de viver os seus melhores anos como futebolista. Mais utilizado no meio-campo, a sua capacidade técnica veio ao de cima. Uma visão de jogo fenomenal e sua habilidade para o passe, fariam dele o verdadeiro maestro da equipa basca -"Em Espanha senti-me muito mais jogador que no Sporting. Na Real Sociedad éramos tratados como ídolos. Eu jogava livre, na posição que queria. Senti-me jogador"*.
Apesar de tudo, a verdadeira paixão de Carlos Xavier sempre foi o Sporting. Esse motivo levá-lo-ia a regressar a Lisboa, três anos após a sua partida para a "La Liga". A sua inclusão no plantel leonino, numa altura em que o Sporting andava afastado dos títulos há vários anos, haveria de ser como que um talismã para o regresso às vitórias. Ora, logo nesse ano 1994/95, os "Leões", numa final frente ao Marítimo, venceriam a Taça de Portugal. Já a temporada seguinte serviria para que o Sporting, com um golo seu na finalíssima da Supertaça, juntasse mais um troféu às suas vitrines.
Mal sabia Carlos Xavier que este seu golo frente ao FC Porto, haveria de ser um dos últimos grandes momentos com a camisola verde e branca. É que com o defeso, chega a Alvalade o treinador Robert Waseige. O belga decide, então, com o intuito de fazer algumas alterações no plantel, de pôr alguns atletas à experiência. Até aqui, tudo certo. O que não se pode dizer "normal", seria a inclusão nesta lista de jogadores a testar, de nomes como o de Carlos Xavier! Ora, ao saber do pretendido, a reacção do jogador, bem mais do que legítima, seria a de pedir a rescisão do contrato, acabando por terminar ali a sua carreira.

*Retirado da entrevista ao "Jornal i", a 27 Outubro de 2011

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