509 - CARLOS ALHINHO

Jogava na Académica do Mindelo, quando os estudos o fizeram viajar para Portugal. Apesar da mudança para um novo país e para uma realidade bem diferente da que, até então, estava habituado, houve coisas que o jovem Carlos faria questão de manter na sua vida. Intacta, estava assim a sua paixão pelo futebol. E nesse seu novo cenário, sediado nas margens do Guadiana, nada melhor havia para ele do que manter-se fiel, também, ao preto das camisolas.
Como já devem ter adivinhado, o novo capítulo da sua vida desenrolar-se-ia em Coimbra. Como não poderia deixar de ser, paralelamente à sua formação estudantil, as cores da "Briosa" haveriam de marcar o seu caminho. Quatro temporadas ao serviço da Académica, acabariam por ser mais do que suficientes para que a sua cotação começasse a subir e outros destinos se desenhassem.
Paralelamente, no Verão de 1972, o Sporting, com o capitão José Carlos em final de carreira, começava a pensar num possível sucessor para o seu lugar. Procurava-se um atleta que, como central que se queria, deveria ser bom no jogo aéreo, com um sentido posicional excelente, valente no desarme e que, essencial para o seu desempenho, tivesse nervos de aço. Curiosamente, no plantel dos "Estudantes" que, contra todas as previsões, não tinha conseguido evitar a despromoção, havia alguém com tais características. O seu nome era Carlos Alhinho!
Em Alvalade, como seria de esperar, a sua vida não foi fácil. Mas apesar de não conseguir assegurar um lugar no "onze" inicial, o atleta não se demovia dos seus objectivos e continuava a manter inalteráveis as suas qualidades. A competência era a maneira que tinha de responder às oportunidades conseguidas. Tal jeito de encarar os desafios, valer-lhe-iam, ainda no decorrer dessa sua temporada de estreia nos "Leões", o devido prémio - a estreia nas convocatórias para a Selecção Nacional.
Mesmo tendo em conta a forte concorrência a que estava sujeito, bastou uma segunda época para que Carlos Alhinho conseguisse ficar dono e senhor no centro da defesa. Essa alteração no seio do último reduto leonino, acabaria por trazer uma estabilidade à equipa, não digo "nunca antes vista", mas de uma qualidade férrea. Os resultados não se fizeram esperar e, a juntar a Taça de Portugal ganha no ano anterior, o Sporting, nessa temporada de 1973/74, conseguiria conquistar a "Dobradinha".
Ora, por esta altura, Carlos Alhinho era, a par de Vítor Damas, o atleta mais utilizado no plantel do Sporting. Este facto dava-lhe uma projecção tal, que outros clubes começaram a reparar nele. Quem primeiro chegaria ao concurso do defesa, seriam os espanhóis do Atlético de Madrid. De malas aviadas para a capital de "Nuestros Hermanos", é então que algo de estranho se passa! Ao mesmo tempo que era contratado o central português, assinava também pelos "Colchoneros" o internacional brasileiro Luís Pereira. O pior é que por esses tempos, a Liga espanhola apenas permitia a inscrição de três estrangeiros. Ora, como no plantel já estavam outros dois, Levinha e Ayala, Carlos Alhinho ficaria sem espaço.
A solução para tal trapalhada passou pelo regresso a Portugal. Com o plantel do Sporting cheio, acabaria por ser no FC Porto que o defesa iria encontrar nova casa. "Sol de pouca dura", já que um ano passado de "Azul e Branco", foi suficiente para que Carlos Alhinho se aventurasse em mais uma incursão pelo estrangeiro. Mas, tal como da primeira vez em Espanha, esta ida para o Betis não correria de feição. Alguns meses depois e já estava de volta a Portugal, desta feita para completar o trio dos "Grandes", assinando pelo Benfica.
Ainda na ressaca da saída de Humberto Coelho para o PSG, Alhinho, num Campeonato que se revelaria do outro mundo, acaba por conseguir um lugar de destaque no plantel das “Águias” – “Quando cheguei à Luz o Benfica estava a dez pontos do Sporting e a nove do FC Porto. No final da época, fomos campeões com nove pontos de avanço sobre o Sporting”.
Foi também com o terminar dessa mesma temporada, sem se perceber muito bem a razão, que o defesa sairia para o RWD Molenbeek. Regressaria para temporada de 1978/79 e nas Águias, excepção feita à passagem de uns meses (tão típica nos anos 70) pelo futebol norte-americano, manter-se-ia durante os anos vindouros.
Já afectado pelas lesões que o iam impedindo de actuar ao melhor nível, os últimos anos da sua carreira passá-los-ia no Algarve. Vestiu a camisola do Portimonense e decidir-se-ia pelo fim depois de uma derradeira época ao serviço do Farense (1983/84).
Apaixonado como era pela modalidade, nunca esteve muito tempo afastado da mesma. Já como treinador, numa carreira sem o brilho que teve enquanto futebolista, destaque-se a primeira qualificação para a CAN, na história da equipa nacional de Angola; o prémio de Treinador do Ano em 2002, ao serviço Al Alhy (Qatar); ou a final da Taça da Asia, atingida enquanto técnico do Muhanrag (Barhein).

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