505 - EMÍDIO GRAÇA

Por razão da "Lei de Opção" que, quase, impossibilitava um atleta movimentar-se de um clube para outro; porque o mediatismo era uma coisa de grandeza diferente; ou, simplesmente, por causa de serem outros os tempos, Emídio Graça poderá ter passado ao lado de uma carreira sensacional!
É verdade! Médio de pendor mais ofensivo, diz quem o viu em campo que a sua maneira de ler o jogo, de o pautar e construir, juntamente com uma técnica que zombaria de muitos "craques" actuais, faziam dele um fora-de-série.
No Vitória de Setúbal, numa altura em que os "homens do Sado" eram um sério afronto à hegemonia dos "Grandes", começou por demonstrar todas as suas habilidades. Foram vários anos em que a sua presença no meio campo sadino era, mais que uma constante, uma certeza de qualidade. Boas, foram as campanhas do Vitória sob a sua batuta. Nesses anos 50, um dos pontos altos da história do jogador terá sido a presença na final da Taça de Portugal de 1953/54. Do Estádio Nacional do Jamor siaria derrotado. Contudo, a sua exibição, e a dos seus companheiros, acabaria por convencer os adeptos. É verdade que no regresso à sua cidade, o tão desejado troféu não vinha na bagagem da comitiva. Mas o esforço demonstrado pelos atletas merecia um pouco mais. Foi então que um grupo de associados decide-se por uma pequena gratificação. Manda fazer a "Taça Recompensa" e, como sinal do seu agradecimento, oferece-a à equipa.
Ora, as temporadas que se seguiriam, também seriam de igual proveito para o centrocampista. É certo, os títulos não apareceram. No entanto, existem outras formas de reconhecimento que, de igual modo, consagram a carreira de um desportista. Uma delas, garantidamente, são as convocatórias para a selecção. Neste campo, Emídio Graça foi presença habitual entre 1955 e 1958. A sua estreia dar-se-ia em Glasgow, frente à congénere escocesa. Os 3 anos que se seguiram trouxeram ao atleta mais 11 internacionalizações, onde, só por uma questão de mesquinhez, poderei dizer que faltou um golo.
Incrivelmente, o seu afastamento da "Equipa das Quinas" dar-se-ia, em coincidência, com aquilo que poderemos considerar como o catapultar da sua vida profissional. Numa altura em que no futebol "luso", emigrantes era algo muito raro, Emídio Graça conseguiria cativar um emblema estrangeiro. 1000 contos, dizem, foi a quantia necessária para convencer os dirigentes do Vitória de Setúbal sobre a sua desvinculação. De seguida, rumou à Andaluzia para assinar contrato.
Já como jogador do Sevilla, impôs-se com a mesma paixão que sempre pôs no trato da bola. Titular, jogaria pelos "Rojiblancos" quase todas as partidas da temporada de 1958/59. Ainda assim, por razões que não consegui apurar, a sua passagem por Espanha foi curta. É verdade que a dita época, para a sua equipa, seria marcada pela atribulação e por várias "chicotadas psicológicas". Ainda assim, 3 treinadores e a despromoção evitada apenas ao "cair do pano", acabam por não justificar o seu prematuro regresso a Portugal.
No Verão de 1959 Emídio Graça volta a envergar a camisola listada do Vitória. Ao seu lado, tinha agora no plantel alguém da família. Numa espécie de sucessão, Emídio foi passando, nestes que seriam os últimos anos da sua carreira, a batuta do meio campo ao seu irmão mais novo. Jaime Graça, esse que se deu a conhecer ao mundo na campanha dos "Magriços", seria um fiel depositário da sua magia. Aliás o final da carreira de Emídio Graça, sempre no seu amado Vitória de Setúbal, coincidiria com mais uma presença na final da Taça de Portugal (1964/65). Desta feita, frente ao Benfica, os "Sadinos" sairiam vencedores. 3-1 seria o resultado da partida, e Emídio Graça, no derradeiro instante da sua carreira, veria o seu irmão na tribuna do Jamor, a erguer o troféu.

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