502 - DELFIM


Já aqui falamos de imensos jogadores que tendo sido grandes promessas, nunca disso passaram. Falta de profissionalismo; questões emocionais; preferência por outras actividades, nomeadamente as noctívagas, são algumas das razões para o sucedido. No entanto, há casos no futebol que, tendo tido o mesmo desfecho, acabariam por ter contornos bem diferentes. Delfim foi um deles.
Ainda era bem novo quando o Boavista haveria de nele reconhecer as qualidades certas para vestir de "xadrez". Foi assim que, com 15 anos apenas, Delfim deixou a sua cidade de Amarante para ir viver para o Porto. No Estádio do Bessa, o seu futebol, recheado de atributos técnicos, levá-lo-ia a frequentar as selecções jovens portuguesas. Boa percepção do jogo, um passe perfeito e um forte remate, eram as qualidades que, juntando à sua coragem e abnegação, o faziam destacar-se dos demais.
Seria já depois de ter vencido o Campeonato Nacional de Juniores (1994/95), ao lado de nomes como Mário Silva ou Nuno Gomes, que o médio seria promovido à primeira equipa do Boavista. Tendo participado em poucas partidas, Delfim, na época que se seguiria (1996/97), acabaria por ser emprestado ao Desportivo das Aves.
O regresso ao balneário das "Panteras" não lhe traria muitas mais oportunidades do que aquelas que, até aí, tinha tido. Contudo, os jogos que ia fazendo pela selecção, ainda que no escalão de "Esperanças", acabariam por dar uma visibilidade tal ao "trinco" que, finda essa época de 1997/98 e com a Supertaça como seu primeiro troféu, o Sporting havia de nele apostar. Apesar das suas qualidades inegáveis, a transferência do Bessa para Alvalade não deixou de ser uma surpresa. Ora, quem não teve dúvidas sobre a sua contratação, acabaria por ser Mirko Jozic. O técnico, que à altura estava no comando dos "Leões", logo tratou de sublinhar a sua certeza. Apostou, sem grandes reservas, no médio defensivo, fazendo dele o atleta mais utilizado nessa temporada.
Mais dois anos de "Verde e Branco" serviriam para Delfim atingir dois marcos importantes na sua carreira. O primeiro aconteceria em 1999/00, quando ajudou o Sporting a conquistar o Campeonato Nacional. Já o segundo ocorreria na época seguinte e daria ao jogador a oportunidade de, num encontro de carácter particular, se estrear pela selecção "A" portuguesa.
O pior é que este biénio traria a Delfim muito mais do que coisas boas... as lesões! Ora, sem ainda ter noção disto, é por esta altura que a sua vida muda de rumo. Até nem começa mal, pois, recuperado da maleita que lhe apoquentava o menisco, vê-se contratado pelos gauleses do Marseille. Já em França, o início da temporada de 2001/02, revela um Delfim em boa forma e capaz de mostrar todo o seu futebol. É então que numa vigem de autocarro, o médio dá um "jeito" nas costas. Diagnóstico: uma contractura lombar. Começa o tratamento e numa dessas sessões o pior acontece - "O fisioterapeuta do clube (...), de repente, efectuou um movimento extremamente brusco. De uma contractura lombar passei a uma entorse na coluna vertebral e corri o risco de ficar paraplégico".
Operado e com um período de recuperação que o levou a estar três anos afastado dos relvados, Delfim teve ainda que enfrentar a falta de carácter dos dirigentes do clube que representava - "A entidade patronal tudo fazia para que eu não voltasse a jogar futebol (...). Não tinha um problema congénito, como o clube queria fazer passar. Fui vítima de negligência e de uma gestão danosa".
Depois de ultrapassado este calvário, Delfim haveria de regressar ao futebol com as cores do Moreirense. Contratualmente ligado aos franceses, ainda regressaria ao Marseille, para, já na época 2006/07, assinar pelos helvéticos do Young Boys. Na Suíça passa por um novo azar. O clube entra numa grave crise financeira e os salários deixam de ser pagos. Sem resolução à vista para o problema, Delfim rescinde unilateralmente o acordo.
É ainda durante essa temporada que Delfim regressa a Portugal, para vestir a camisola da Naval 1º de Maio. A Figueira da Foz marca, desse modo, o começo da etapa final da sua carreira. A mesma terminaria em 2009, ao serviço do Trofense e depois de, no escalão máximo do nosso futebol, provar que continuava a dar muito à modalidade.

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