462 - GIL

Rapidez, capacidade de luta, uma força extraordinária e um forte remate, foram as características que fizeram dele um dos mais estimados atletas brasileiros dos anos 70. Contudo, um atleta não se faz só de técnica e de físico. Para Gil, tal como para tantos outros que assim o entenderam, mais do que qualquer habilidade mostrada dentro do relvado, houve sempre outros valores mais importantes. Para ele, a exemplo, a humildade - "Eu era um bom jogador, mas nunca fui craque. Fazia golos, era brigador, valente e dava porrada nos caras. Era difícil me parar, porque sempre fui muito forte".
Foi no Cruzeiro que apareceu. No entanto a quantidade de estrelas que, no início da década de 70, faziam parte do plantel, como é o caso de Tostão, fizeram com que o extremo-direito fosse emprestado. O regresso ao clube de origem, apesar das boas indicações que já tinha dado, não fizeram com que Yustrich (antigo treinador do FC porto) lhe desse mais oportunidades. Por essa razão, decidiu pedir à direcção do clube para que o dispensassem. Conseguiu. Assinou pelo Vila Nova e a sua vida mudou. Começou por ser o melhor marcador da Taça de Minas Gerais, o que rapidamente o levou a transferir-se para o Comercial. Aí, as boas exibições no Brasileirão valer-lhe-iam a atenção de outros emblemas de maior monta, e quando deu por si, já vestia a camisola do Fluminense.
Chegou ao Rio de Janeiro para fazer parte da equipa que ficou conhecida com a "Máquina Tricolor". Todos a recordam como um grupo de jogadores excepcionais, onde Abel Braga, Edinho ou Rivelino faziam as delícias dos adeptos. Aliás, seria com este último que Gil construiria as jogadas mais memoráveis daquele tempo. Tudo começava em Rivelino que, com a sua capacidade de passe, conseguia colocar a bola, em lançamentos de cerca de 50m, nos pés de Gil. A partir daí, era ver o atacante nas suas corridas estonteantes, flectindo sempre para o interior da área adversária, e onde, tantas vezes, concluía as ofensivas com um golo. Ajudou, desse modo, o emblema carioca a vencer dois Estaduais (1975; 1976), contudo, e como o próprio ainda lamenta, sem conseguir conquistar o Campeonato do Brasileiro - "Fui bicampeão carioca em 75 e 76, mas perdemos praticamente dois Brasileiros. Foi uma tristeza um time tão bom não ter ganhado”.
Apesar do sucesso que Gil estava a conseguir com as cores do "Flu", a sua grande paixão clubística era outra. Foi isso mesmo que, em 1977, o fez trocar de camisola e, desse modo, aceitar a transferência para o Botafogo.
É verdade que esta mudança não lhe trouxe os tão pretendidos títulos. No entanto, Gil passou a jogar mais no centro do ataque e, talvez por essa razão, alcançou notoriedade suficiente para se transformar num dos habituais da selecção "Canarinha". Foi esse mesmo estatuto que manteve no Mundial de 1978, e que fez com que fosse um dos mais utilizados no torneio disputado na Argentina.
Já depois de uma curta passagem pelo Corinthians, surge a sua primeira ida para a Europa, e para os espanhóis do Real Murcia. É no entanto a sua segunda experiência que nos interessa mais. Primeiro porque foi no Farense; segundo porque a mesma marcaria o fim da sua carreira como jogador; e por fim, porque seria nos "Leões de Faro" que Gil teria a sua primeira experiência como técnico (treinador-jogador). Aliás, seria no desempenho destas funções que antigo internacional viveria uma das suas histórias mais engraçadas. A mesma prende-se com um "bate-boca" com Renato Gaúcho, ídolo do Fluminense, que, ao que parece, ignorante e sem saber quem se apresentava à sua frente, terá dito - "Olha aí, treinador que nunca jogou bola”. O seu treinador, Gil, respondeu - “Como é que é? Joguei no Flu, no Botafogo e disputei uma Copa do Mundo”. Envergonhado, é então que o atleta pergunta - “Você é o Búfalo? (alcunha pela qual ficou conhecido) ” -, acabando por ouvir: “Sou eu mesmo e joguei muito mais do que você”.

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